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domingo, 23 de junho de 2013

RECOMEÇANDO

VII

Parecia ser o fim de todos os sonhos, mas a vida continuava e os problemas também, exigindo providências. Após a morte da mãe, Matias se mudou para a casa da sobrinha. Não tinha coragem de deixá-la só, num momento tão delicado. Mesmo tendo uma vida misteriosa aos olhos de Valéria, o tio era o parente mais próximo e talvez o único que realmente podia confiar. Horácio era o amigo que queria ser mais do que amigo, mas o sentimento não era recíproco e isso incomodava a sensibilidade dela, que não queria fazê-lo sofrer. Sabia desde os quinzes anos de idade do interesse dele por ela, mas conseguiu até então manter somente a chama da amizade, embora fosse o desejo do pai e da mãe em vê-los casados um dia. Todas as vezes que pensava nisto, Valéria sentia uma força estranha, como se fosse preciso aguardar, e que  futuro fosse lhe trazer surpresas agradáveis,como ganhar numa loteria, mas não era dinheiro que ela teria, e sim, um grande presente de Deus, em quem ela aprendeu desde cedo a confiar plenamente. Essa era a motivação que a tirava da tristeza e lhe dava forças para lutar.

A propriedade precisava de cuidados. A colheita  tinha sido satisfatória, mas muita coisa ainda precisava ser feita, como a sopra do feijão. o cuidado no armazenamento do que não fosse vendido, as contas vencendo, e muitas outras coisas relacionadas com a fazenda. Não faltava ajuda dos amigos e vizinhos que se revezavam para cuidar dos serviços, mas mesmo com tantas oferendas, as decisões mais sérias dependiam dela. Era preciso cuidar do inventário, das coisas deixadas pelos pais. Com a morte do pai, Tereza Maria não conseguiu resolver todas as pendências, e agora ela sabia que as coisas se complicariam. Sempre que perguntava sobre isso para a mãe, ou o tio, eles desconversavam e não respondiam o que ela queria saber. Diziam que ela não precisava se preocupar , que  aquilo não era assunto para ela. E agora? Não sabia por onde começar.
Uma coisa a preocupava muito. Porque Matias desconversava quando o assunto era o inventário? Dispunha o tempo todo a ajudá-la, mas ficava calado quando ela tocava no assunto dos bens, que lhe era de direito e obrigação, legalizar e assumir.  A cada dia que passava sentia-o mais calado e triste. Nos fins de semana montava o seu cavalo e ninguém sabia para onde ele ia. Era então que Horácio se aproximava, com a atitude de quem se sentia responsável por ela.

Aos Domingos Valéria ia a missa, revia as amigas, conversavam e isso ajudava a passar o dia. A tarde podia olhar a estrada,  pelas dezoito horas, e lá vinha  o tio, de volta para mais uma semana de trabalho, a seu lado. Gostava muito dele, embora aquele ar de mistério que sempre a preocupou, continuasse muito forte entre eles.

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